“O AMOR é A ARTE de criar algo com a juda da capacidade de outro.”
Bertholt Brecht
Brecht
criticava as disparidades sociais da época: "Quero
fazer teatro com funções sociais bem definidas. O palco deve refletir a vida
real. O público deve ser confrontado com o que se passa lá fora para refletir
como gerir melhor a sua vida", dizia.
"O pior
analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos
acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão,
do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões
políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito
dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o
político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do
povo.
"Nada é impossível de Mudar "
Desconfiai do mais trivial, na
aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos
expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo
de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de
humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível
de mudar."
"Privatizado"
Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora
de amar e seu direito de pensar. É da empresa privada o seu passo em frente,
seu pão e seu salário. E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a
sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence."
Os que lutam
"Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons; Há aqueles que
lutam muitos dias; e por isso são muito bons; Há aqueles que lutam anos; e são
melhores ainda; Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis."
Precisamos
De Você.
Aprende - lê nos
olhos, lê nos olhos - aprende a ler jornais, aprende: a verdade pensa com tua
cabeça.
Faça perguntas sem medo não te convenças sozinho mas vejas com teus olhos. Se
não descobriu por si na verdade não descobriu.
Confere tudo ponto por ponto - afinal você faz parte de tudo, também vai no
barco, "aí pagar o pato, vai pegar no leme um dia.
Aponte o dedo, pergunta que é isso? Como foi parar aí? Por que? Você faz parte
de tudo.
Aprende, não perde nada das discussões, do silêncio. Esteja sempre aprendendo
por nós e por você.
Você não será ouvinte diante da discussão, não será cogumelo de sombras e
bastidores, não será cenário para nossa ação.
Se os Tubarões Fossem Homens
Se os tubarões fossem homens, eles seriam mais gentís com os peixes pequenos.
Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar,
para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais,
quanto animais. Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada
e adotariam todas as providências sanitárias cabíveis se por exemplo um
peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim de que
não moressem antes do tempo. Para que os peixinhos não ficassem tristonhos,
eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor
que os tristonhos.
Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os
peixinhos aprenderiam como nadar para a guela dos tubarões. Eles aprenderiam,
por exemplo a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões,
deitados preguiçosamente por aí. Aula principal seria naturalmente a formação
moral dos peixinhos. Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais
belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar
nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos
peixinhos. Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria garantido se
aprendessem a obediência. Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes
de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista. E denunciaria
imediatamente os tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações.
Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre si a fim de
conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros. As guerras seriam
conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que,
entre os peixinhos e outros tubarões existem gigantescas diferenças. Eles
anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais
diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro. Cada
peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos da outra língua
silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o
título de herói.
Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles naturalmente também uma arte,
haveria belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em
vistosas cores e suas guelas seriam representadas como inocentes parques de
recreio, nas quais se poderia brincar magnificamente. Os teatros do fundo do
mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as guelas
dos tubarões. A música seria tão bela, tão bela, que os peixinhos sob seus
acordes e a orquestra na frente, entrariam em massa para as guelas dos tubarões
sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos. Também haveria uma religião
ali.
Se os tubarões fossem homens, eles ensinariam essa religião. E só na barriga
dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida. Ademais, se os tubarões
fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos,
alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros. Os que fossem um
pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável
aos tubarões, pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores
bocados para devorar. E os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam
pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores,
oficiais, engenheiros da construção de caixas e assim por diante. Curto e
grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.
Aos que virão depois de nós
Eu vivo em tempos sombrios. Uma linguagem sem malícia é sinal de estupidez, uma
testa sem rugas é sinal de indiferença. Aquele que ainda ri é porque ainda não
recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses, quando falar sobre flores é quase um crime. Pois
significa silenciar sobre tanta injustiça? Aquele que cruza tranqüilamente a
rua já está então inacessível aos amigos que se encontram necessitados?
É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver. Mas acreditem: é por acaso.
Nado do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado. (Se a minha sorte me deixa estou perdido!)
Dizem-me: come e bebe! Fica feliz por teres o que tens! Mas como é que posso
comer e beber, se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome? Se o copo de
água que eu bebo, faz falta a quem tem sede? Mas apesar disso, eu continuo
comendo e bebendo.
Fonte: Antologia Poética de Bertolt Brecht