O experimental como uma arte de muitas vozes e
linguagens.
Uma ótima definição de experimental pode
ser encontrada no dicionário de teatro de Luís
Paulo Vasconcelos: “termo usado para definir todo tipo de experimentalismo
parateatral derivado ou influenciado pelos movimentos de vanguarda dos anos 60
e 70, particularmente os de criação coletiva e do happening”.
No meu entendimento, experimentação em dança, em teatro tem a ver com a
renovação dos sistemas tradicionais de ensino e treinamento do corpo cênico.
Significa que ao contrário do teatro comercial, na arte experimental
os artistas gostam de correr riscos e quebrar paradigmas estéticos para criar. Experimentalismo
não tem nenhuma relação com amadorismo. Arte experimental, de vanguarda, de
pesquisa, de laboratório é o modelo de produção artística que almeja a
criação de métodos próprios de trabalho e criação cênica. É
uma postura de resistência dos artistas que não estão mais satisfeitos em
reproduzir formas ou técnicas existentes. Buscam uma atividade artística
mais autoral e total. Um remanejamento no que diz respeito ao
trabalho dos artistas atores, bailarinos e performáticos em relação á criação
cênica.
Não podemos mais adaptar a interpretação ou criação a um só
modelo ou estilo de representação. É preciso e necessário se arriscar
experimentando, em experiências criativas que ainda não foram formuladas ou
exploradas racionalmente, conscientemente. Que se faça necessário explorar e
abusar de "exercícios cênicos" nos quais a
espontaneidade, a improvisação, a intuição, a inspiração e o inconsciente sejam
as ferramentas para a criação e liberdade artística. Faz-se
necessário se investir em um repertório de representação ou criação capaz de
estabelecer um diálogo mais eficaz com a época e tempo no qual vivemos. O
terreno da experimentação permite a pesquisa e o envolvimento com o que ainda
não existe, a busca de uma verdade oculta que possa transformar
o acontecimento cênico, e que instiga o encenador a se arriscar na
narrativa, na montagem, no uso de recursos técnicos e até no trabalho com os
atores.
Qual o tipo de arte que quero fazer? Qual é o meu
projeto artístico?
Não tenho nada contra os artistas que fazem teatro
comercial e burguês, ou mesmo que só montam espetáculos baseados em peças de
autores já consagrados. Prefiro trabalhar agora, experimentando,
criando textos inéditos na sala de ensaios ou em colaboração com o elenco,
buscar inspirações dramatúrgicas em cena, nas atuações dos atores e atrizes, na
época em que vivemos e em seus acontecimentos sociais e históricos. Acredito
que a dedicação á pesquisa pode estimular e incentivar um coletivo
de artistas a reinventarem a cena com suas experiências de vida, com o seu
material já trabalhado na escola de teatro tornando o trabalho artístico mais
autoral.
As respostas devem ser claras para definir o tipo de
linguagem ou trabalho de pesquisa a desenvolver para evoluir e criar
uma identidade no grupo.
Devo aceitar e seguir a tradição, a instituição e a
exploração comercial que dita ás regras dos espetáculos a serem vistos para ter
rentabilidade financeira, ou estarei disposta a abrir mão de lucros e criar
um trabalho de maior engajamento com minha época e país, ser uma portadora de mensagens
e signos de mudança. Reproduzir aceitando ás regras, ou inovar
para crescer e conquistar o público com uma linguagem mais
acessível, humana e democrática que, se apropria da realidade
exterior e a transforma em experiências e vivências artísticas de crescimento para os artistas e
para a platéia.
Na arte experimental, se cria um espaço mais abrangente
entre os artistas e o seu público, na medida em que eles
deixam os palcos dos teatros fechados, e vão procurar novas
plateias ávidas por ver, sentir e experimentar
novas vivências pelas artes cênicas. Vivências estas que
lhes possibilitem uma experiência mais realista , o
entendimento de um espetáculo que dialogue de forma mais objetiva com nosso
tempo. A arte não tem só que entreter e divertir. A arte tem que incitar a
reflexão e a mudança do que está estagnado e incomoda. Arte tem que
propor revoluções.
E dentro deste contexto qual será o papel dos
atores e atrizes neste projeto?
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