“Esta
noite não falo como autor e nem como poeta; e nem como estudante sensível e
conhecedor da vida do homem; mas como um ardente apaixonado pelo teatro. Creio
sinceramente que o teatro não pode ser outra coisa que emoção e poesia, na
palavra, na ação e no gesto. O
teatro é um dos mais expressivos e úteis
instrumentos para a educação de um país e de um povo.
Um teatro sensível e bem orientado em todos os seus ramos, desde a tragédia ao vaudeville pode mudar em poucos anos a sensibilidade de um povo. O teatro é uma escola de choro e de riso, uma tribuna livre onde os homens podem expor evidências morais, velhas ou equivocadas, e explicar com exemplos vivos normas internas do coração e do sentimento da homem.
Um teatro sensível e bem orientado em todos os seus ramos, desde a tragédia ao vaudeville pode mudar em poucos anos a sensibilidade de um povo. O teatro é uma escola de choro e de riso, uma tribuna livre onde os homens podem expor evidências morais, velhas ou equivocadas, e explicar com exemplos vivos normas internas do coração e do sentimento da homem.
O teatro sempre foi
minha vocação.
Dei ao teatro muitas
horas de minha vida.
Tenho uma concepção
de teatro de certa forma pessoal e resistente.
O teatro é a poesia que se levanta do livro e que se faz humana
O teatro é a poesia que se levanta do livro e que se faz humana
E ao fazer-se
humana, fala, grita, chora, ri e se desespera.
O
teatro necessita de que os personagens que aparecem em cena tenham roupagem de
poesia e deixem ao mesmo tempo, seus
ossos e seu sangue. Os
personagens tem de ser tão humanos, tão horrorosamente trágicos e ligados a
vida, com uma força tal, que mostrem suas traições, que se apreciem suas dores,
e que saia dos lábios toda a valentia de
suas palavras, cheias de amor e de ódio”.
(Federico Garcia Lorca - Palestra
realizada em Madri
em fevereiro de 1935 antes da estréia
de Yerma.).
"Arte de Paixão e Resistência"
Este é o Prólogo
Tradução de Oscar Mendes
Deixaria neste livro
toda minha alma.
Este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.
Que compaixão dos livros
que nos enchem as mãos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam!
Que tristeza tão funda
é mirar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta!
Ver passar os espectros
de vidas que se apagam,
ver o homem despido
em Pégaso sem asas.
Ver a vida e a morte,
a síntese do mundo,
que em espaços profundos
se miram e se abraçam.
Um livro de poemas
é o outono morto:
os versos são as folhas
negras em terras brancas,
e a voz que os lê
é o sopro do vento
que lhes mete nos peitos
— entranháveis distâncias. —
O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchadas
de chorar o que ama.
O poeta é o médium
da Natureza-mãe
que explica sua grandeza
por meio das palavras.
O poeta compreende
todo o incompreensível,
e as coisas que se odeiam,
ele, amigas as chama.
Sabe ele que as veredas
são todas impossíveis
e por isso de noite
vai por elas com calma.
Nos livros seus de versos,
entre rosas de sangue,
vão passando as tristonhas
e eternas caravanas,
que fizeram ao poeta
quando chora nas tardes,
rodeado e cingido
por seus próprios fantasmas.
Poesia, amargura,
mel celeste que mana
de um favo invisível
que as almas fabricam.
Poesia, o impossível
feito possível. Harpa
que tem em vez de cordas
chamas e corações.
Poesia é a vida
que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva
nossa barca sem rumo.
Livros doces de versos
são os astros que passam
pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu
as estrofes de prata.
Oh! que penas tão fundas
e nunca aliviadas,
as vozes dolorosas
que os poetas cantam!
Deixaria no livro
neste toda a minha alma...
toda minha alma.
Este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.
Que compaixão dos livros
que nos enchem as mãos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam!
Que tristeza tão funda
é mirar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta!
Ver passar os espectros
de vidas que se apagam,
ver o homem despido
em Pégaso sem asas.
Ver a vida e a morte,
a síntese do mundo,
que em espaços profundos
se miram e se abraçam.
Um livro de poemas
é o outono morto:
os versos são as folhas
negras em terras brancas,
e a voz que os lê
é o sopro do vento
que lhes mete nos peitos
— entranháveis distâncias. —
O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchadas
de chorar o que ama.
O poeta é o médium
da Natureza-mãe
que explica sua grandeza
por meio das palavras.
O poeta compreende
todo o incompreensível,
e as coisas que se odeiam,
ele, amigas as chama.
Sabe ele que as veredas
são todas impossíveis
e por isso de noite
vai por elas com calma.
Nos livros seus de versos,
entre rosas de sangue,
vão passando as tristonhas
e eternas caravanas,
que fizeram ao poeta
quando chora nas tardes,
rodeado e cingido
por seus próprios fantasmas.
Poesia, amargura,
mel celeste que mana
de um favo invisível
que as almas fabricam.
Poesia, o impossível
feito possível. Harpa
que tem em vez de cordas
chamas e corações.
Poesia é a vida
que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva
nossa barca sem rumo.
Livros doces de versos
são os astros que passam
pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu
as estrofes de prata.
Oh! que penas tão fundas
e nunca aliviadas,
as vozes dolorosas
que os poetas cantam!
Deixaria no livro
neste toda a minha alma...
“ A arte tem que estar acima de tudo. E vocês, queridos
atores, artistas acima de tudo, artistas dos pés a cabeça, posto que por amor
e devoção é que vocês subiram ao mundo fingido e doloroso do palco, do teatro.
Artistas por preocupação e ocupação. Desde o teatro mais modesto ao mais
burguês, se deve escrever a palavra arte nas salas e camarins. Porque se não
escreveremos comércio ou outra coisa que não me atrevo a dizer.Teatro é
hierarquia, disciplina, sacrifício e amor”.
“Neste momento dramático do mundo o artista deve chorar e
rir com o seu povo. É preciso deixar de lado o ramo das açucenas e enfiar-se na
lama até a cintura para ajudar aos que procuram as açucenas. Particularmente,
eu tenho uma ânsia verdadeira de me comunicar com os outros.Por isso bati às
portas do teatro e ao teatro consagro toda minha vida”.
“As vezes quando vejo o que se passa no mundo, me pergunto:
- Para que escrevo?
Mas há que trabalhar, trabalhar. Trabalhar e ajudar ao que
merece. Trabalhar ainda que, às vezes, pense que realiza um esforço
inútil.Trabalhar como uma forma de protesto. Porque meu impulso seria gritar
todos os dias ao despertar em um mundo cheio de injustiças e misérias de toda
ordem:
Neste mundo eu sou e sempre serei partidário dos pobres. Eu
sempre serei partidário dos que não tem nada e até a tranquilidade do nada se
lhes nega.
Nós - me refiro aos homens de
significação intelectual e educados no ambiente médio das classes que podemos
chamar de acomodadas – estamos chamados ao sacrifício, aceitemo-lo”.
Federico
Garcia Lorca
(Junho
de 1936)
"As Contradições Humanas"