sábado, 14 de fevereiro de 2015

SOBRE PAIXÃO E VOCAÇÃO 2



Conferencias sobre o Teatro
Federico Garcia Lorca

O teatro foi sempre a minha vocação. Dei ao teatro muitas horas da minha vida. Tenho um conceito de teatro de certa forma pessoal e resistente. O teatro é a poesia que se levanta do livro e que se faz humana. E ao fazer isso, fala e grita, chora e se desespera. O teatro necessita que os personagens que aparecem em cena levem um traje de poesia e ao mesmo tempo é preciso que se vejam seus ossos, o sangue. Hão de ser tão humanos, tão horrorosamente trágicos e ligados à vida e ao dia com uma tal força, que lhes mostrem as traições, que se lhes apreciem os cheiros e que lhes saiam dos lábios toda a valentia de suas palavras cheias de amor ou de asco. O que não pode continuar é o que hoje sobe aos palcos levados pela mão dos seus autores. São personagens ocos, totalmente vazios, a quem só se pode ver através do colete um relógio parado, um osso falso ou um cocô de gato, desses que se encontram por aí. 


Hoje, na Espanha, a maioria dos autores e dos atores ocupam uma zona apenas intermediária. Escreve-se no teatro para os camarotes e não para o poleiro. Escrever para a plateia principal é a coisa mais triste do mundo.O público que vai assistir fica frustrado . E o público virgem, o público ingênuo, que é o povo, não compreende por que se fala no teatro de problemas desprezados por ele nos pátios da sua vizinhança. Em parte os atores têm culpa. Não é que sejam más pessoas, mas ... “Ouça, Fulano, quero que você me faça uma comédia em que eu faça... eu mesmo. Sim, sim: eu quero fazer isso e aquilo. Quero estrear uma roupa de primavera. Adoraria ter vinte e três anos. Não se esqueça.” E, assim, não se pode fazer teatro. Assim, o que se faz é perpetuar uma dama jovem através dos tempos e um galã apesar da arteriosclerose. (...)

O teatro é um dos mais expressivos e úteis instrumentos para a edificação de um país e o barômetro que marca sua grandeza ou a sua decadência. Um teatro sensível e bem-orientado (...) pode mudar em poucos anos a sensibilidade do povo; e um teatro destroçado, no qual as patas substituem as asas, pode embrutecer e adormecer uma nação inteira.

O teatro é uma escola de pranto e riso e uma tribuna livre onde os homens podem colocar, em evidência, morais velhas ou equivocadas e explicar com exemplos vivos normas eternas do coração e do sentimento do homem.


Um povo que não ajuda e não fomenta o seu teatro, se não está morto está moribundo; como o teatro que não colhe a pulsação social, a pulsação histórica, o drama de suas gentes e a cor genuína de sua paisagem e de seu espírito, com riso ou com lágrimas, não tem o direito de chamar-se teatro. Não me refiro a ninguém nem quero machucar ninguém; não falo da realidade viva, mas sim do problema levantado sem solução.Escuto todos os dias, queridos amigos, falar da crise do teatro e sempre penso que o mal não está diante dos nossos olhos, mas sim no mais escuro de sua essência: não é um mal de flor atual, ou seja, de obra, mas sim de profunda raiz, que é em suma, um mal de organização. (...)


O teatro deve se impor ao público e não o público ao teatro. Para isso, autores e atores devem revestir-se, a custa de sangue, de grande autoridade, porque um público de teatro é como as crianças nas escolas; adora o professor sério e austero que exige e faz justiça e enche de agulhas cruéis as cadeiras em que se sentam os professores tímidos e aduladores que não ensinam nem deixam ensinar.





 Há necessidade de fazer isso para o bem do teatro. Há que manter atitudes dignas. O contrário seria matar as fantasias, a imaginação e a graça do teatro, que é sempre, sempre uma arte. Arte acima de tudo. Arte nobilíssima. E vocês, queridos atores, artistas acima de tudo. Artistas dos pés à cabeça, já que por amor e vocação subiram ao mundo fingido e doloroso do palco. Artistas por ocupação e preocupação,desde o teatro mais modesto ao mais importante se deve escrever a palavra “Arte” em salas e camarins, porque senão vamos ter que pôr a palavra “Comércio” ou alguma outra que não me atrevo a dizer. 



"Teatro é hierarquia, trabalho, disciplina, sacrifício e amor."

Não quero dar-lhes uma lição porque me encontro em condição de recebê-la. Minhas palavras são ditadas pelo entusiasmo e pela segurança. Não sou um iludido. Pensei muito e com frieza, o que penso, e, como bom andaluz, possuo o segredo da frieza porque tenho sangue antigo. Sei que não possui a verdade aquele que diz “hoje, hoje, hoje”, com os olhos postos nas pequenas goelas da bilheteria, mas sim o que serenamente olha lá longe a primeira luz na alvorada do campo e diz “amanhã, amanhã, amanhã” e sente chegar a nova vida que se derrama sobre o mundo.

(...) Sabe outra coisa? Na arte não se deve nunca ficar quieto nem satisfeito. Há que ter a coragem de quebrar a cabeça contra as coisas e a vida... A cabeçada... depois a gente vê o que acontece... Já veremos onde está o caminho . 

"Uma coisa que também é primordial é respeitar os próprios instintos. O dia em que se deixa de lutar contra seus instintos, esse dia em que se deixa de lutar contra seus instintos, nesse dia aprendemos a viver."








"Coragem para assumir sonhos e força para colocá-los 

em prática"









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